Embaixadores: Pedro Felipe Loiola de Souza e Anita de Souza Silva
Revisor: Ana Liz Bastos e Maria Helena Franco Morais
A raiva é uma encefalite viral provocada pelo Vírus da Raiva – RABV (Lyssavirus rabies) e transmitida por lambedura, mordedura e arranhadura por animais infectados.
A Raiva apresenta quatro ciclos epidemiológicos distintos, sendo que o ser humano pode ser acometido em todos. O ciclo silvestre tem a participação de diversos mamíferos silvestres como o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous), o guaxinim (Procyon spp) e o sagui-do-tufo-branco (Callithrix jacchus). No ciclo aéreo, os quirópteros hematófagos ou não hematófagos, são muito importantes do ponto de vista epidemiológico, são considerados relevantes na manutenção e dispersão do vírus.
Já no ciclo rural, participam os bovinos, equinos e pequenos ruminantes que podem ser atacados por morcegos. Por último, o ciclo urbano tem a participação de cães e gatos, os gatos podem infectar-se pelo contato com o vírus no morcego frugívoro caído, pelo instinto de predação.
A grande problemática da raiva está relacionada à severidade dos sinais neurológicos e da sua elevada letalidade (aproximadamente 100%). Em humanos, após a exposição a um animal possivelmente infectado, observa-se o animal por 10 dias e, caso não seja possível, vacina-se a pessoa ou administra-se o soro. A utilização da vacina e do soro é mais comum em acidentes com animais de produção e animais silvestres.
Após o aparecimento dos sinais clínicos, a única forma de tratamento existente é o Protocolo de Milwaukee (adaptado no Brasil para Protocolo de Recife), contudo a taxa de cura é baixa, somente havendo registro de cinco casos de cura bem sucedida no mundo. Já em animais, não há tratamento, sendo a observação do animal doente e a eutanásia as únicas medidas a serem tomadas.
O Programa Nacional de Profilaxia da Raiva (PNPR) foi implementado em 1973, as ações do programa abrangem todo o território nacional, visando a redução dos casos da raiva em humanos. O programa realiza a profilaxia em humanos que atuam em áreas com maior risco de exposição ao vírus rábico (Pré-exposição).
A profilaxia de pré-exposição é indicada para humanos com risco de exposição ao vírus rábico, como estudantes das ciências agrárias, e profissionais como Médicos Veterinários, Zootecnistas, Biólogos, Agronomia, Agrotécnica e áreas afins. Pessoas que atuam na captura, contenção, manejo, coleta de amostras, vacinação, pesquisas, investigações ecoepidemiológicas, espeleólogos, turistas e outros.
No caso dos seres humanos suspeitos de infecção pelo vírus rábico, preconiza-se a realização do protocolo de pós-exposição recomendado pelo Ministério da Saúde. De acordo com a Nota Técnica n° 8/2022, no caso de agressões por cães e gatos passíveis de observação, não é recomendado a profilaxia, já nas agressões envolvendo animais silvestres e mamíferos domésticos de interesse econômico realiza-se a profilaxia pós-exposição.
O Brasil registrou casos de raiva humana nos últimos anos, no período de 2010 a 2020 foram registrados 45 casos. Cães, morcegos, felinos, primatas não humanos e raposas foram os animais envolvidos nas agressões.
Em 2020, aconteceram dois casos de raiva humana no Brasil, um caso transmitido por morcego em Angra dos Reis, Rio de Janeiro, e outro no município de Catolé do Rocha, Paraíba, transmitido por raposa.
No município de Chapadinha, Maranhão, uma criança contraiu raiva após a agressão de uma raposa, o fato ocorreu em 2021. Em 2022, confirmou-se cinco casos de raiva humana no Brasil, quatro notificados por agressão do morcego em uma aldeia indígena no município de Bertópolis, Minas Gerais, e um caso no Distrito Federal, o animal agressor não identificado.
Portanto, para que se possa diminuir ou controlar os casos de raiva humana no País, é necessário a realização correta do protocolo de pós-exposição, a vacinação dos animais e a realização de ações de educação em saúde.
Referências:
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BRASIL. Ministério da Saúde. NOTA TÉCNICA Nº 8/2022-CGZV/DEIDT/SVS/MS. Informa sobre atualizações no Protocolo de Profilaxia pré, pós e reexposição da raiva humana no Brasil. Secretaria de Vigilância em Saúde, Brasília, 10 de mar., 2022.
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MERLO, D.N.; SILVA, R.L.C.; ROCHA, V.E.S.; OLIVEIRA, B.C.R.; FIRMINO, F.P.; SANTOS, J.F. Educação em saúde para prevenção da raiva humana. Arquivos de Ciências Veterinárias e Zoologia da UNIPAR, Umuarama, v. 24, n. 1, p. 1-6, 2021.
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