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Dia Internacional dos Animais de Rua

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Escrito por: KaiqueLeite

Revisado por: Rosângela Gebara e Lucas Galdioli

O Dia Mundial dos Animais de Rua, celebrado em 4 de abril, surgiu na Holanda na década passada, e veio para destacar a condição a que estão submetidos, que em sua maioria são cães e gatos. Essa celebração visa conscientizar as pessoas sobre a importância de ações conjuntas para encarar o grande desafio de tentar melhorar a condição de vida desses animais.

Animais de rua ou em situação de rua?

Apesar de semelhantes, é necessário estabelecer um padrão para os termos relacionados ao abandono de animais domésticos, especialmente em países latino-americanos onde há falta de conscientização sobre a responsabilidade dos tutores e deficiências nas medidas de proteção animal. Uma terminologia específica pode fortalecer as pesquisas, evitando interpretações equivocadas e facilitando a comunicação de dados precisos eeficientes. 

É importante reconhecer que, embora os termos possam parecer similares, às condições peculiares enfrentadas por esses animais são utilizadas como critério para diferenciá-los. Por esse motivo, compreender as características é crucial para desenvolver métodos confiáveis que permitam descrever melhor a interação do animal com o ambiente. Os “animais de rua” podem ter uma relação incerta com o meio urbano, mas ainda mantêm alguma independência buscando comida e abrigo nas ruas, são mais adaptados a viver nas ruas. Por outro lado, os “animais em situação de rua” não nasceram nas ruas, não vivem há muito tempo nelas, não estão adaptados, estão vivendo uma situação onde enfrentam privações extremas, como a falta de alimento, abrigo e cuidados médicos, lutando diariamente para sobreviver em condições adversas.

Houve uma mudança ao longo das últimas décadas, em relação ao comportamento social das pessoas em situação de rua quando comparadas aos animais submetidos nessa mesma condição. A definição da situação de rua perpassa estados de permanência quepodem considerar o tempo de estada como determinante. Assim, os estados seguem de “ficar na rua” a “ser da rua”, passando pela situação intermediária “estar na rua”. 

O abandono de animais é um problema habitual nos centros urbanos, envolve questões sociais complexas que levam a consequências devastadoras para o animal, para a comunidade humana e para o meio ambiente, sendo assim um problema que necessita de uma abordagem em Saúde Única para o seu enfrentamento e redução de danos futuros.

Os cães e gatos influenciam na promoção da saúde de forma positiva ou negativa, dependendo do nível da guarda responsável e das políticas públicas implantadas para equilibrar estas populações e prevenir os demais agravos. Quando a relação humano-animal se desfaz ou não se desenvolve, os animais podem estar em risco de serem abandonados pelos seus cuidadores, além de estarem sujeitos a questões socioeconômicas, que comprometam o seu bem-estar (negligência, injúrias e maus-tratos) e de saúde pública (acidentes de trânsito, risco de mordidas de cães, zoonoses, alto potencial reprodutivo, risco a fauna silvestre, entre outros).

Em 2020, no Brasil, estimou-se a população aproximada de cães seja de 55,9 milhões e de gatos 25,6 milhões, de acordo com os dados levantados pelo Instituto Pet Brasil, considerando uma parcela significativa, correspondendo a 10,8%, está em condição de vulnerabilidade, chegando a 8,8 milhões em 2020, um aumento de 126% desde 2018. Esses animais, muitos dos quais vivem abaixo da linha de pobreza ou nas ruas, representam uma preocupação crescente. De acordo com o mesmo levantamento, organizações não-governamentais e grupos de protetores tutelam cerca de 184.960 animais resgatados por maus-tratos ou por estarem abandonados, com uma mudança notável no perfil dos resgatados, indicando um aumento nos casos de maus-tratos.

Um estudo global liderado pela Mars em colaboração com especialistas em bem-estar animal revelou a gravidade do Brasil no contexto do abandono, estimando no ano passado, um total de 30 milhões de cães e gatos desamparados, isto é, 25% da população de animais abandonados no mundo, além da superpopulção de 185 mil, destes, concentrada em abrigos. A oportunidade, a fim de reduzir essa estatística, é entender como prevenir pets indesejados, garantir os cuidados necessários e manter os pets em domicilios. 

A presença de cães e gatos em 50% dos lares brasileiros destaca a importância de abordar essas questões para garantir o bem-estar animal e promover a adoção responsável. É observado, principalmente nos grandes centros urbanos, uma sensível mudança nos padrões demográficos e de moradia que levam a alterações no comportamento das famílias com relação a seus animais de estimação e, ao mesmo tempo, no papel dos mesmos para as famílias. Para tanto, é o cenário ideal para a elaboração do censo demográfico regional para identificar problemas, definir prioridades, e a partir de situações-problema poder investigar melhor todo esse contexto.

Em países em desenvolvimento, como no Brasil, onde não existe a cultura de receber animais em abrigos pelos tutores, geralmente os cães e gatos abandonados tornam-se parte de uma população em situação de rua e são resgatados por abrigos privados ou protetores independentes, ou entram em abrigos públicos confiscados de situação de maus-tratos ou por estarem em extremo sofrimento nas ruas.

O avanço de organizações independentes defensoras da causa animal tem sido cada vez mais significativo, e passou a assumir o protagonismo do manejo populacional nos municípios e, assim, conseguindo refletir a necessidade das participações de cada ente – governamental, terceiro setor, classe veterinária, como também dos cidadãos com ações imediatas para impactar na conscientização humanitária e melhorar a qualidade de vida desses animais nas ruas até a sua reintrodução em um lar pela guarda responsável. Portanto, compreender o perfil de quem abandonou, as razões para o abandono e o perfil do animal abandonado, além dos programas de microchipagem e esterilização cirúrgica, entre outras medidas, permitirá um planejamento em estratégias e alternativas de manejo populacional mais exequíveis.

REFERÊNCIAS

ARGENTON, F.; LECH, A. J. Z.; MONSALVE, S.; KOPACH, M. & Garcia, R. D. C. M. Estimativa da população de cães abandonados em dois municípios do Sul, 2022.

BALTAR, J.G.C.; GARCIA, A. Pessoas em situação de rua e seus cães: fragmentos de união em histórias de fragmentação. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 12(2), 2019, 191-209. Disponível em: http://dx.doi.org/10.36298/gerais2019120202.

BRASIL. Research, Society and Development, v.11, n.8, e51311831063, 2022.Disponível em: DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i8.31063.

BRUGNEROTTO, M. Epidemiologia do abandono de animais domésticos e aspectos relacionados. Dissertação (Mestrado), n. 1, p. 87–89, Universidade Federal do Paraná, 2023.

BRUGNEROTTO, M.; OLIVEIRA H. V. G.; GALDIOLI, L.; GUERIO, S.; GEBARA, R.R.; GARCIA, R. C. M.  Terminologia sobre abandono de animais domésticos para uso na América Latina,  v. 11, n. 14, ISSN 2525-3409. Disponível em: DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd– v11i14.361392022. 

INSTITUTO PET BRASIL. Censo Pet: 139,3 milhões de animais de estimação no Brasil, 2019. Disponível em: http://institutopetbrasil.com/imprensa/censo-pet-1393-milhoes-de- animais-de-estimacao-no-brasil/.

INSTITUTO PET BRASIL. Número de animais de estimação em situação de vulnerabilidade mais do que dobra em dois anos, aponta pesquisa do IPB, 2022. Disponível em: https://institutopetbrasil.com/fique-por-dentro/numero-de-animais-de-estimacao-em-situacao-de-vulnerabilidade-mais-do-que-dobra-em-dois-anos-aponta-pesquisa-do-ipb/.

MARS. Estimativas de desabrigados de animais de estimação com base em pesquisas primárias e secundárias conduzidas pela Euromonitor International em 2022-2023 e estimativas de animais de estimação coletados pela equipe Mars Consumer Marketing Insights. Disponível em:   https://stateofpethomelessness.com/methodology/?Country=Brasil.

OLIVEIRA, A. B.; LOURENÇÃO, C.; BELIZARIO, G. D. Índice estatístico de animais domésticos resgatados da rua vs. adoção. Revista Dimensão Acadêmica, v.1, n.2, ISSN:2525-7846, 2016.