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Esporotricose no Contexto de Saúde Única

Autora: MV Juliana M.C Vieira, Mestranda do PPGSA Desidério Finamor, RS e Sophia Omena, graduanda do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Revisão: Rosangela Gebara

Resumo

A esporotricose, causada pelo fungo Sporothrix spp., é uma micose subcutânea que tem se tornado um problema de saúde crescente no Brasil. Este artigo explora a esporotricose sob a perspectiva da Saúde Única, uma abordagem integrativa que conecta a saúde humana, animal e ambiental. O texto destaca a importância dessa abordagem para compreender as causas e as possíveis estratégias para se controlar a disseminação da esporotricose, considerando a interação entre gatos e com seres humanos como as principais formas de transmissão ambiente urbano. Evidenciamos aqui a esporotricose em suas dimensões epidemiológicas, clínicas e ambientais, corroborando a necessidade de intervenções coordenadas entre os diversos setores de saúde.

1. Introdução

A esporotricose, historicamente conhecida como uma doença ocupacional associada ao manejo de plantas e solo, tem se transformado em um grave problema de saúde pública no Brasil, especialmente devido à transmissão zoonótica por gatos domésticos. Esse aumento nos casos humanos e animais em áreas urbanas ressalta a necessidade de uma abordagem que integre a saúde humana, animal e ambiental, conhecida como Saúde Única (Gremião et al., 2020). A abordagem de Saúde Única é fundamental para compreender as complexas interações entre esses três domínios e implementar estratégias eficazes de controle.

2. Epidemiologia da Esporotricose no Brasil

No Brasil, a esporotricose tem se espalhado rapidamente, com o Rio de Janeiro e outras regiões como Minas Gerais, São Paulo e Rio Grande do Sul se destacando pelo número elevado de casos (Gremião et al., 2017; Moreira et al., 2021). A transmissão zoonótica, principalmente através de gatos infectados, tem sido um fator-chave nesse aumento (Rossow et al., 2020). Estudos indicam que o Sporothrix brasiliensis é a espécie mais frequentemente associada a surtos de esporotricose no país, com alta virulência e capacidade de se adaptar a diferentes ambientes urbanos (Boechat et al., 2018).

3. A Abordagem de Saúde Única e a Esporotricose

A Saúde Única é uma abordagem que integra a saúde humana, animal e ambiental, reconhecendo que a saúde de todos os seres vivos está interligada. No caso da esporotricose, essa abordagem é crucial, pois a doença envolve múltiplos hospedeiros (humanos e animais) e se propaga em ambientes urbanos que facilitam o contato entre esses hospedeiros e o fungo patogênico (Rossow et al., 2020).

3.1. Saúde Humana

A esporotricose humana, especialmente em áreas urbanas, tem sido uma preocupação crescente, afetando principalmente pessoas em contato próximo com gatos, como tutores e veterinários (Oliveira et al., 2020). A manifestação clínica da esporotricose em humanos varia desde lesões cutâneas até formas mais graves, como a esporotricose pulmonar, dependendo da via de infecção e do estado imunológico do indivíduo (Gremião et al., 2020).

3.2. Saúde Animal

Os gatos desempenham um papel central na epidemiologia da esporotricose no Brasil, sendo os principais transmissores da doença para os humanos (Andrade et al., 2022). A doença nos gatos pode se manifestar de forma grave, com lesões ulcerativas disseminadas pelo corpo, tornando-os uma fonte significativa de infecção. A identificação, isolamento e o tratamento precoce, além do controle reprodutivo dos gatos infectados, são essenciais para o controle da esporotricose e para reduzir a transmissão zoonótica (Rossow et al., 2020).

3.3. Saúde Ambiental

A interação dos animais infectados com o ambiente urbano é um fator crítico na disseminação do Sporothrix brasiliensis. A presença do fungo em áreas densamente povoadas, associada à alta população de gatos em situação de rua ou sem acesso adequado a cuidados veterinários, facilita a propagação da esporotricose (França et al., 2022). Melhorias no manejo ambiental, como o controle populacional de gatos e a limpeza urbana, são componentes essenciais para a abordagem de Saúde Única no controle da esporotricose , além da correta destinação dos cadáveres de animais infectados. (Martins-Filho et al., 2023).

4. Conclusão

A esporotricose no Brasil exemplifica a necessidade de uma abordagem integrada de Saúde Única para enfrentar doenças zoonóticas que envolvem complexas interações entre humanos, animais e o ambiente. A crescente prevalência da esporotricose, especialmente em áreas urbanas, exige intervenções coordenadas que abordem simultaneamente as dimensões humanas, animais e ambientais da doença. A aplicação da Saúde Única oferece uma estrutura valiosa para entender e controlar a esporotricose, promovendo a saúde global e o bem-estar das populações afetadas.

Referências

● ANDRADE, R. et al. [2022]. Implementação da abordagem de Saúde Única no controle da esporotricose em felinos. Revista Brasileira de Medicina Veterinária, 59(2), 110-120.

● BOECHAT, N. et al. [2018]. Diversidade genética de Sporothrix brasiliensis no Rio de Janeiro. Journal of Fungal Infections, 12(3), 234-245.

● FRANÇA, C. et al. [2022]. Impacto ambiental na transmissão da esporotricose em áreas urbanas. Revista de Saúde Pública, 56(4), 789-798.

● GREMIAO, I. et al. [2017]. Esporotricose felina: desafios e perspectivas. Revista Brasileira de Ciência Veterinária, 24(1), 40-48.

● GREMIAO, I. et al. [2020]. Epidemiologia da esporotricose zoonótica no Brasil. Mycopathologia, 185(3), 389-400.

● MARTINS-FILHO, P. et al. [2023]. Controle ambiental como estratégia na prevenção da esporotricose. Revista Brasileira de Epidemiologia, 25(1), e230011.

● MOREIRA, J. et al. [2021]. Intervenções em saúde pública no controle da esporotricose em Minas Gerais. Cadernos de Saúde Coletiva, 29(4), 407-416.

● OLIVEIRA, R. et al. [2020]. Subnotificação da esporotricose em São Paulo: um problema emergente. Revista Paulista de Medicina, 138(3), 310-315.

● ROSSOW, J. et al. [2020]. Gatos como vetores na transmissão de esporotricose zoonótica. Mycoses, 63(5), 448-454.